sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Festival Eurovisão da Canção: 60 anos.

O Festival Eurovisão da Canção (Eurovision Song Contest – ESC) completa em 2015 sessenta anos de existência, sendo um dos mais antigos concursos televisivos do mundo e o programa favorito entre os europeus. Inspirado no Festival de San Remo (Festival dela Canzone Italiana), que teve início em 1951, o Eurovisão foi idealizado por um comitê liderado por Marcel Bezençon e concebido pela União Europeia de Radiodifusão (UER) (European Broadcasting Union – EBU) no intuito de realizar uma competição pan-europeia de música popular, o primeiro concurso musical no mundo a fazer competir diferentes países[1]. Segundo Terry Wogan: “O Festival Eurovisão da Canção é uma ideia verdadeiramente maravilhosa, a qual não suporta uma inspeção mais casual. Como alguém pode imaginar que um júri turco pode julgar uma música sueca? Como é que um croata pode avaliar um fado português? Agora, se todos cantaram em inglês ... aí está a dificuldade.”[2].
A UER foi criada em 1950 e seu primeiro nome foi Eurovision, termo cunhado em 1951 por George Campey, um dos jornalistas do tablóide inglês The Evening Standard, justamente o nome que seria atribuído ao festival de música da corporação.
Depois de uma reunião da UER, ocorrida em Mônaco, em 1955, ficou decidido que a primeira edição seria na Suíça, país sede da UER, e que jamais uma edição ocorreria no mesmo lugar do ano anterior. Deste modo, o primeiro Festival Eurovisão, ainda chamado Grand Prix Eurovision de la Chanson Européene (Grande Prêmio Eurovisão da Canção Europeia), teve lugar no dia 24 de maio de 1956, no Teatro Kursaal, em Lugano, Suíça.
Entretanto, a primeira edição do Eurovisão esteve mais para um programa de rádio, tendo em vista os poucos europeus que possuíam aparelhos de televisão em suas casas. O apresentador foi Lohengrin Filipello e o programa durou 1 hora e 40 minutos, tempo no qual os sete países concorrentes tiveram a chance de apresentar duas canções cada, que não poderiam exceder os três minutos e meio cada uma. Os artistas foram acompanhados por uma orquestra de 24 músicos, tendo Fernando Paggi como maestro. A vencedora foi a canção “Refrain”, interpretada em francês por Lys Assia, representante da Suíça. Mas como a regra não permitia que o mesmo lugar sediasse duas edições seguidas, no ano seguinte o festival se realizou em Frankfurt, Alemanha, a partir de quando cada país passou a apresentar apenas uma canção.

LISTA DOS VENCEDORES DO FESTIVAL EUROVISÃO DA CANÇÃO (1956-2015).

Ano
País vencedor
Canção
Intérprete (es)
Compositor (es)
País e cidade sede
Local do evento

1956
Suíça
Refrain
Lys Assia
Émile Gardaz/ Géo Voumard
Suíça, Lugano
Teatro Kursaal
1957
Holanda
Net als toen
Corry Brokken
Guus Jansen/ Willy van Hemert
Alemanha, Frankfurt
Großer Sendesaal des Hessischen Rundfunks
1958
França
Dors, mon amour
André Claveau
Hubert Giraud/ Pierre Delanoë
Países Baixos, Hilversum
AVRO Studios
1959
Holanda
Een beetje
Teddy Scholten
Dick Schallies/ Willy van Hemert
França, Cannes
Palais des Festivales et des Congrés
1960
França
Tom Pillibi
Jacqueline Boyer
André Popp/ Pierre Cous
Reindo Unido, Londres
Royal Festival Hall
1961
Luxemburgo
Nous les amoureux
Jean-Claude Pascal
Jacquis Datin/ Maurice Vidalin
França, Cannes
Palais des Festivales et des Congrés
1962
França
Unn premier amour
Isabelle Aubret
Claude-Henri Vic
Luxemburgo, Luxemburgo
Villa Louvigny
1963
Dinamarca
Dansevise
Grethe e Jørgen Ingmann
Otto Francker/ Sejr Volmer-Sørensen
Reino Unido, Londres
BBC Television Centre
1964
Itália
Non ho l’età
Gigliolla Cinquetti
Nicola Salerno/ Mario Panzeri
Dinamarca, Copenhagen
Tivoli Koncertsal
1965
Luxemburgo
Poupée de cire, poupée de son
France Gall
Serge Gainsbourg
Itália, Nápoles
Sala di Concerto della RAI
1966
Áustria
Merci, chérie
Udo Jürgens
Udo Jürgens/ Thomas Hörbiger
Luxemburgo, Luxemburgo
Villa Louvigny
1967
Reino Unido
Puppet  on a string
Sandie Shaw
Bill Martin/ Phil Coultrer
Áustria, Viena
Großer Festsaal der Wiener Hofburg
1968
Espanha
La, la, la
Massiel
Ramón Arcusa/ Manuel de la Calva
Reino Unido, Londres
Royal Albert Hall
1969
Espanha
Vivo cantando
Salomé
Aniano Alcalde/ Maria José de Cerato
Espanha, Madri
Teatro Real
Reino Unido
Boom Bang-a-Bang
Lulu
Peter Warne/ Alan Moorhouse
Holanda
De troubadour
Leny Khur
Lenny Khur/ David Hartsema
França
Un jour, un enfant
Frida Boccara
Eddy Marnay/ Emil Stern
1970
Irlanda
All kinds of everything
Dana
Derry Lindsay/ Jackie Smith
Países Baixos, Amsterdã
Congrescentrum
1971
Mônaco
Um banc, um arbre, une rue
Séverine
Yves Dessca/ Jean-Pierre Bourtayre
Irlanda, Dublin
Gaiety Theatre
1972
Luxemburgo
Après toi
Vicky Leandros
Yves Dessca/ Klaus Munro/ Mario Panas
Escócia, Edimburgo
Usher Hall
1973
Luxemburgo
Tu te reconnaîtras
Anne-Marie David
Vline Buggy/ Claude Morgan
Luxemburgo, Luxemburgo
Nouveau Théâtre Luxembourg
1974
Suécia
Waterloo
ABBA
Stikkan Anderson/ Benny Andersson/ Björn Ulvaeus
Reino Unido, Brighton
The Dome
1975
Países Baixos
Ding a Dong
Teach-in
Esin Engin/ Will Luikinga/ Eddy Ouwens/ Fikret Senes
Suécia, Estocolmo
Stockhlmsmässan
1976
Reino Unido
Save your kisses for me
The Brotherhood of Man
Tony Hiller/ Lee Sheriden/ Martin Lee
Países Baixos, Haia
Nederlands Congresgebouw
1977
França
L’Oiseau et l’Enfant
Marie Myriam
Joe Gracy/ Jean-Paul Cara
Reino Unido, Londres
Wembley Conference Centre
1978
Israel
A-Ba-Ni-Bi
Izhar Cohen e The Alphabeta
Ehud Manor/ Nurit Hirsh
França, Paris
Palais des Congrès
1979
Israel
Hallelujah
Gali Atari e Link and Honey
Shmrit Orr/ Kobi Oshrat
Israel, Jerusalém
Centro Internacional de Convenções
1980
Irlanda
What’s another year
Johnny Logan
Shay Healy
Países Baixos, Haia
Nederlands Congresgebouw
1981
Reino Unido
Making our mind up
Bucks Fizz
 Andy Hill/ John Danter
Irlanda, Dublin
RDS Simmonscourt Pavilion
1982
Alemanha
Ein bißchen Frieden
Nicole
Bernd Meinunger/ Ralph Siegel
 Reino Unido, Harrogate
Harrogate International Centre
1983
Luxemburgo
Si la vie est cadeau
Corinne Hermès
Alain Garcia/ Pierre Millers
Alemanha, Munique
Rudi-Sedlmayer-Halle
1984
Suécia
Diggi-Loo Diggi-Ley
Herreys
Britt Lindeborg/ Torgny Söderberg
 Luxemburgo, Luxemburgo
Grand Théâtre de Luxembourg
1985
Noruega
La det swinge
Bobbysocks
Rolf Løvland
Suécia, Gotemburgo
Scandinavium
1986
Bélgica
J’aime la vie
Sandra Kim
Rosario Marino/ Jean Paul Furnémont/ Angelo Crisci
Noruega, Bergen
Grieghallen
1987
Irlanda
Hold me now
Johny Logan
Seán Sherrard
Bélgica, Bruxelas
Centenary Palace
1988
Suíça
Ne partez pas sans moi
 Céline Dion
 Nella Martinetti/ Atilla
Sereflug

Bélgica, Dublin
RDS Simmonscourt Pavilion
1989
Iuguslávia (atual Croácia)
Rock me
Riva
Stevo Cvikić/ Rajko Dujmić
Suíça, Lausanne
Salle Lys Assia, Palais de Beaulieu
1990
Itália
Insieme: 1992
Toto Cotugno
Salvatore
Cotugno
Iuguslávia (atual Croácia), Zagreb
Vatroslav Lisinski
1991
Suécia
Fångad av em stormcind
Carola
Stephan Berg
Itália, Roma
Studio 15 di Cinecittà
1992
Irlanda
Why me?
Linda Martin
Johnny Logan
Suécia, Malmö
Malmö Ice Stadium
1993
Irlanda
In your eyes
Niamh Kavanagh
Jimmy Walsh
Irlanda, Milstreet
Green Glens Arena
1994
Irlanda
Rock ’n’ roll kids
Paul Harrington e Charlie McGettigan
Brendan Grahan
Irlanda, Dublin
Point Theatre
1995
Noruega
Nocturne
Secret Garden
Petter Skavland/ Rolf Løvland
Irlanda, Dublin
Point Theatre
1996
Irlanda
The Voice
Eimear Quinn
Brendan Graham
Noruega, Oslo
Oslo Spektrum
1997
Reino Unido
Love Shine a Light
Katrina and the waves
Kimberley Rew
Irlanda, Diblin
Point Depot
1998
Israel
Diva
Dana International
Yoav Ginai/ Svika Pick
Reino Unido, Birmingham
National Indoor Arena
1999
Suécia
Take me to your heaven
Charlotte Perrelli
Marcos Ubeda/ Lars Diedricson
Israel, Jerusalém
Centro Internacional de Convenções
2000
Dinamarca
Fly on the wings of love
Olsen Brothers
Jørgen Olsen
Suécia, Estocolmo
Globen
2001
Estônia
Everybody
Tanel Padar, Dave Benton e 2XL
Maian-Anna Kärmas/ Ivar Must
Dinamarca, Copenhagen
Parken
2002
Letônia
I Wanna
Marie N
Marija Naumova/ Marats Samauskis
Estônia, Tallinn
Saku Suurhall
2003
Tuquia
Everyway that i can
Sertab Erener
Demir Demirkan
Letônia, Riga
Skonto Hall
2004
Sérvia e Montenegro
Lane Moje
Željko Joksimović e Ad Hoc Orchestra
Željko Joksimović
Turquia, Istambul
Abdi Ipekçi Arena
2005
Romênia
Let me try
Luminiţa Anghel e Sistem
Cristin Faur
Ucrânia, Kiev
Palace of Sports
2006
Finlândia
Hard Rock Hallelujah
Lordi
Mr. Lordi
Grécia, Atenas
Olympic Indoor Hall
2007
Sérvia
Molitva
Marija Šerifović
Saša Milošević Mare/ Vladimir Graić
Finlândia, Helsinque
Hartwall Areena
2008
Rússia
Believe
Dima Bilan
Dima Bilan/ Jim Beanz
Sérvia, Belgrado
Beogradska Arena
2009
Noruega
Fairytale
Alexander Rybak
Alexander Rybak
Rússia, Moscou
Olimplisky Indoor Arena
2010
Alemanha
Satellite
Lena Meyer-Landrut
Julie Frost/ Dane John Gordon
Noruega, Oslo
Fornebu Arena
2011
Azerbaijão
Running Scared
Ell e Nikki
Stefan Örn/
Sandra Bjurman/
Iain Farquharson
Alemanha, Düsseldorf
Esprit Arena
2012
Suécia
Euphoria
Loreen
Thomas G:son/ Peter Boström
Azerbaijão, Baku
Baku Crystal Hall
2013
Dinamarca
Only teardrops
Emmelie de Forest
Lise Cabble/ Julia Fabrin Jakobsen/ Thomas Stengaard
Suécia, Malmö
Malmö Arena
2014
Áustria
Rise Like a Phoenix
Conchita Wurst
Charly Mason/ Joey Patulka/ Ali Zuckowski/ Julian Maas
Dinamarca, Copenhagen
B&W Hallerne
2015
Suécia
Heroes
Måns Zelmerlöw
Anton Malmberg Hård af Segerstad/ Joy Deb/ Linnea Deb
Áustria, Viena
Wiener Stadhalle

De lá para cá o Festival Eurovisão da Canção passou por inúmeras reestruturações e se ampliou enormemente. Em 1968, o nome em inglês para o festival, Eurovision Song Contest Grand Prix, muda para Eurovision Song Contest, hoje nome oficial do evento. No mesmo ano o Eurovisão tem sua primeira transmissão a cores, em alguns países, apesar de serem poucos os espectadores com TV em cores em suas residências. A transmissão na atualidade é feita via rádio, televisão e também Internet, através dos canais membros da UER e do canal oficial do evento (www.eurovision.tv/), atingindo um público de cerca de 600 milhões de pessoas em todo o mundo, tornando o Eurovisão um megaevento assistido em todo o planeta. No canal do evento no Youtube, os números aumentam, em sete anos foram feitos 2.500 uploads de vídeos sobre o festival, que juntos totalizam 1 bilhão de visualizações. O público feminino parece ser o mais assíduo, a estimativa é que 40% dos espectadores sejam homens e os outros 60% mulheres. Podemos dizer, como já disse Svante Stockselius, ex-Supervisor Executivo do certame, que: “Um dos mais apreciados programas de TV no mundo por cinquenta anos [atualmente sessenta anos], o Festival Eurovisão da Canção é agora maior, melhor e mais popular do que nunca”[3].
O Eurovisão é tão apreciado que em 1984 foi criada pelos euro-fãs a OGAE (Organisation Générale des Amateurs de l’Eurovision (Organização Geral dos Fãs do Eurovisão)), uma organização internacional que reuni uma rede de 43 fãs-clubes do festival, dentro e fora da Europa. Também são inúmeros os sitesblogs e perfis em redes sociais que acompanham as novidades do evento, longe de se restringirem apenas ao espaço europeu, havendo inclusive representantes brasileiros[4].
Só podem concorrer no Festival Eurovisão as emissoras membro da UER. Os países escolhem as canções representantes através de seleções nacionais que podem ser através de festivais, reality shows[5] ou seleções internas das emissoras. Segundo Jorge Mangorrinha:
“Na década de 1990, deu-se uma verdadeira revolução no mapa da Europa e nos países a concurso na Eurovisão. Um conjunto de novos Estados da ex-Juguslávia (1993) e outros da Europa Central e Oriental, incluindo a Federação Russa (1994), fizeram aumentar, numa primeira fase, o número de participantes para duas dezenas e meia, para atingir mais de 40 países em algumas das recentes edições. Pela Eurovisão, já desfilaram mais de um milhar de canções.”[6].
Desta forma, o número de países concorrentes aumentou dos sete iniciais para os trinta e quatro da atualidade, fora o país sede e o Big 5 (grupo ao qual pertencem o Reino Unido, Espanha, França, Alemanha e Itália, que tem sua participação assegurada no evento por serem os maiores contribuidores financeiros da UER), totalizando quarenta países. Em 2008 e 2011 esse número chegou a 43 países.
O festival teve ao longo de sua história concorrentes de dentro e de fora da Europa, reunindo participantes também da Ásia, África e até Oceania (a Austrália foi convidada a participar em 2015). A Irlanda é hoje o país que mais venceu o certame, num total de sete vitórias, seguida pela Suécia, com seis vitórias, e pela França, Luxemburgo e Reino Unido, com cinco vitórias cada. Malta, Chipre, Islândia e Portugal (país que mais participou entre todas as edições do Eurovisão), nunca venceram o certame[7].
O sistema atual de votação é complexo: os espectadores são convidados a votar em suas canções favoritas, através do televoto (aplicativo, telefone ou SMS), sendo que não se pode votar na canção representante do país onde o espectador se encontra. Isso faz com que surjam os chamados voting blocs (ou “votos de vizinhança”), caso em que países vizinhos votam nas canções uns dos outros. Outro grande fator de auxílio na votação é o número de imigrantes que cada país possui em território europeu. O voto do público equivale a 50% da votação, os outros 50% ficam a cargo de um júri nacional encontrado em cada país, que lista as canções concorrentes de acordo com a sua preferência. Essa combinação passará depois para o Eurovision system, que consiste na distribuição dos pontos de acordo com o ranking montado, ficando o primeiro lugar com 12 pontos, o segundo com 10 pontos e o terceiro com 8 pontos, a partir daí e até o décimo lugar os pontos são distribuídos de forma decrescente. Os países abaixo da 10ª colocação não recebem pontos. A votação inicia logo após a apresentação da última canção, com o tradicional bordão: “Start voting now!” (“Comece a votar agora!”); e termina com o também tradicional: “Stop voting now!” (“Pare de votar agora!”).
Atualmente o Eurofestival é realizado no formato de duas semifinais e uma final, todas ocorrendo numa mesma semana, a chamada Eurovision Week. Na segunda-feira desta semana é tradicionalmente realizada uma festa de boas-vindas, a Mayor’s Reception, com a participação do prefeito da cidade e das delegações dos países concorrentes. Todas as noites desta mesma semana também ocorre o Euroclub, um ambiente dançante para o qual todos os credenciados são convidados. Simultaneamente ao certame funciona também o Eurovision Village, espaço criado para abrigar eventos relacionados ao Eurovisão. No dia das semifinais ocorre mais um ensaio geral e duas conferências de imprensa, uma antes (com todos os concorrentes) e outra depois (apenas com os classificados).
O vencedor do Eurovisão ganha um troféu, flores e o direito de no ano seguinte ver representado seu o país, que passa ser a sede do evento. Não há premiação em dinheiro, tendo em vista a representatividade do mérito da vitória. Mas o festival também tem uma premiação bem inusitada, o Prêmio Barbara Dex, que elege o concorrente mais mal vestido do evento e foi criado em referência à representante belga de 1993, a cantora Barbara Dex, que se apresentou com um figurino considerado de mau gosto.
Não obstante, em 2015 o Festival Eurovisão da Canção completou sessenta anos de existência e para comemorar esta data foi realizado o Eurovision Song Festival Greatest’s Hits, evento que apresentou grandes sucessos da história do Eurovisão, gravado em 31 de março no auditório do Eventim Apollo Hammersmith, em Londres, transmitido pela BBC e reprisado por outras emissoras membros da UER.
Também em 2015 se realizou a sexagésima edição do Eurovisão, desta vez sediado em Viena, Áustria (48 anos depois de sua última vitória), entre os dias 19 e 23 de maio, no Wiener Stadhalle, maior centro de eventos da Áustria e um dos maiores da Europa. Os números mostram que o Festival Eurovisão é de fato grandioso, concorreram 40 países, o público estimado foi de 16 mil pessoas por dia de evento e foram gastos em torno de 35 milhões de euros – 25 milhões fornecidos pela emissora anfitriã, a ORF, e os outros 10 milhões ficaram por conta da cidade de Viena, sede do evento.[8] A construção do palco do Wiener Stadhalle, contou com dezenas de trabalhadores, que também colaboraram na construção da Green room (uma espécie de sala de espera dos concorrentes) e do cenário que incluiu um painel de LED, um conjunto de cilindros luminosos formando um olho gigante, uma enorme quantidade de luzes, algumas delas sobre o público simulando ondas do mar, e muitos efeitos especiais.
Nesse certame de 2015, além dos 39 países que de fato concorreram ao prêmio, como dissemos, também houve a participação da Austrália que foi convidada a participar devido ao apreço que os australianos têm pelo Eurovisão, evento que há 30 anos é transmitido no país. Apesar de poder ser votada, caso ocorresse uma vitória da Austrália (que ficou com o quinto lugar), a sede do próximo festival seria em uma cidade europeia e a organização seria conjunta entre a SBS, emissora australiana, e uma emissora membro da UER.
Um estudo, de 2005[9], analisou a fórmula das canções “eurovisivas”. Segundo este estudo as canções tem as seguintes características: “1) andamento rápido e ritmo cativante, 2) letras de fácil memorização e repetitivas, 3) um contraste harmônico ou dinâmico no refrão, 4) alguma mudança fundamental levando a 5) um final claramente definido, mais 6) uma dança atraente e 7) figurinos.”[10]. Podemos acrescentar que as canções apresentadas no Eurofestival, geralmente, se dividem em dançantes, românticas ou catárticas, buscando a abstração dos expectantes. Segundo John Kennedy O’Connor:
“A maioria das entradas tratam do tema do amor, mas você também vai encontrar canções sobre o sol, lua, estrelas, céu, cometas e outros corpos celestes. Fantoches, bonecos, palhaços e carrosséis tem um papel importante na história do Eurovisão, tal como as canções sobre lugares europeus ou ainda destinos longínquos como Colorado, São Francisco, Brasil e Lusitânia. Particularmente atente para os corações batendo boom, boom boom, boom, boom, badadoum e boom bang-a-bang. Há inúmeras canções sobre a música em si, incluindo referências a grandes compositores como Purcel, Puccini, Offenbach, Debussy, Gerschwin, Chopin e Beethoven, e isso é apenas a entrada da Áustria em 1980! Talvez o mais surpreendente de tudo, é que você sempre vai encontrar um canção sobre o próprio Eurovisão.”[11].
 Falamos que o Eurovisão é um concurso onde diferentes canções de diferentes países competem, mas segundo Irving Wolther, o Eurofestival é mais do que uma competição musical, vindo a polarizar audiências e ter a mesma importância nos diversos países concorrentes, possibilitando ainda o intercâmbio entre ideias e culturas. Para demonstrar as diferenças e analisar a importância e interconexão entre os vários países, Wolther dividiu o festival em sete “dimensões de significado”, as quais têm como base as especificidades estruturais e históricas do concurso. São elas: “A dimensão midiática”, “A dimensão musical”, “A dimensão econômico-musical”, “A dimensão política”, “A dimensão nacional-cultural”, “A dimensão nacional econômica” e “A dimensão competitiva”[12].



[1] As informações aqui encontradas foram, em maior parte, retiradas do site oficial do evento, Eurovision Song Contest, e do site português Festivais da Canção, mas também há informações retiradas do Youtube e outros sites diversos. Ver: Eurovision Song Contest. Disponível em: <http://www.eurovision.tv/> Acesso em: 10 jan. 2015. Ver também: Festivais da Canção. Disponível em: <https://festivaiscancao.wordpress.com/> Acesso em: 05 fev. 2015
[2] “The Eurovision Song Contest is a truly wonderful idea, which doesn’t bear the most casual inspection.  How can anybody imagine that a Turkish jury can judge a Swedish song? How does a Croatian assess a Portuguese fado? Now, if everyone sung English… there’s the rub.” WOGAN In GAMBACCINI, Paul (et al.).The Complete Eurovision Song Contest Companion. London: Pavilion Books, 1998, pp. 07-08, tradução nossa.
[3] One of the most enjoyed TV shows in the world for over fifty years [nowadays sixty years], the Eurovision Song Contest is now bigger, better and more popular than ever.” STOCKSELIUS apud O’CONNOR In: O’CONNOR, J. K.. The Eurovision Song Contest: The Official HistoryLondon: Carlton Books, 2010. p. 04, tradução nossa.
[4] Ver: ESCBRASIL. Disponível em: <http://escbrasil.com/>. Ver também: Brasil Eurovision. Disponível em: <https://brasileurovision.wordpress.com/>. Ver também: Eurovision Brazil. Disponível em: <https://www.facebook.com/eurovisionbrazil>. Ver também: Brasil Eurovision. Disponível em: <https://twitter.com/eurovisionbr>.
[5]  A escolha de artistas para o Eurovisão através de reality shows, por exemplo, abre caminho para inúmeros novos artistas ainda iniciantes, o que não ocorria anteriormente, quando havia um predomínio de artistas já consagrados.
[6] MANGORRINHA, Jorge. Cultura Eurovisiva: Canções, Política, Identidades e o Caso Português. Lisboa: IECCPMA/ CLEPUL, 2015, p. 10.
[7] Ver: MONTEIRO, José Fernando. S.. Festival RTP da Canção: Os cinquenta anos do festival eurovisivo português. Revista Brasileira de Estudos da Canção, Natal, nº 6, pp. 73-89, jul.-dez. 2014. Ver também: NEVES, Mauro. O fracasso português: Por que Portugal nunca conseguiu vencer o Eurovisão?. Bulletin of the Faculty of Foreign StudiesSophia University, nº 46, pp. 91-128, 2011.
[8] No certame de 2012, realizado em Baku, Azerbaijão, os gastos foram ainda maiores, cerca de 75 milhões de euros.
[9] Boom Bang-a-Bang and Ding-a-Dong: Pop Science Reveals “Waterloo” as the perfect Eurovision Song apud RAYKOFF, Ivan; TOBIN, Robert Deam. A Song for Europe: Popular Music and Politics in the Eurovision Song Contest. Hampshire: Ashgate, 2007. p. xix.
[10] “1) fast pace and catchy rhythms, 2) memorable and repetitive lyrics, 3) a harmonically or dynamically contrasting chorus, 4) a key change leading to 5) a clearly defined finish, plus 6) an appealing dance routine and 7) costumes.” RAYKOFF, Ivan; TOBIN, Robert Deam. A Song for Europe: Popular Music and Politics in the Eurovision Song Contest. Hampshire: Ashgate, 2007, p. xix, tradução nossa.
[11] “The majority of the entries deal with the subject of love, but you’ll also find songs about the sun, moon, stars, heavens, comets and other celestial bodies. Puppets, dolls, clowns and merry-go-rounds play a large part in Eurovision history, as do songs about European places as well as such far-flung destinations as Colorado, San Francisco, Brazil and Lusitania. Particularly watch out for hearts going boom, boom boom, boom, boom, badadoum and boom bang-a-bang. There are countless songs about music itself, including references to such great composers as Purcel, Puccini, Offenbach, Debussy, Gerschwin, Chopin and Beethoven, and that’s just the Austrian entry from 1980! Perhaps most surprisingly of all, you’ll even find one song about Eurovision itself.” O’CONNOR, J. K.. The Eurovision Song Contest: The Official History. London: Carlton Books, 2010. p. 06, tradução nossa.
[12] Ver: Wolther, Irving. More than just music: the seven dimensions of the Eurovision Song ContestPopular Music, vol. 31, jan. 2012, pp 165-171


Este texto é parte de: MONTEIRO, José Fernando S.. Festival Eurovisão da Canção: 60 anos: Multiculturalismo, Diversidade e Alteridade. Veredas da História, [online], v.8, n.1, 2015, p. 121--139. Disponível em: http://www.seer.veredasdahistoria.com.br/ojs-2.4.8/index.php/veredasdahistoria/article/view/165

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