quarta-feira, 5 de outubro de 2016

FESTIVAIS E ETNICIDADE: BRASIL E PORTUGAL.

O Brasil sempre foi conhecido pela sua diversidade e miscigenação racial. Não por acaso, se criou no século XIX o mito do “Brasil Mestiço” e surgiu a ideia de “democracia racial”. Nos Festivais da Canção, tal como em sua antecessora, a “Era do Rádio”, não foi diferente. Podemos destacar a participação de representantes de diferentes etnias, dentro dos certames e, mesmo quando não presentes, encontram-se referências à sua cultura. Este último é o caso dos ameríndios que na canção Mira Ira, interpretada por Raíces de América, tem representação de instrumentos (flauta pã) e língua (tupi). Os afrodescendentes tem grande representação nos festivais, desde canções relacionadas à sua cultura e religiosidade até a incorporação de gêneros estrangeiros como a soul music, passando ainda pelo samba e cantiga de capoeira. O número de brancos também é expressivo nos festivais, contando com nomes que vão de Chico Buarque e Elis Regina a Oswaldo Montenegro e Lucinha Lins. E podemos incluir ainda mestiços como Jards Macalé e Jorge Ben e outros com traços como Edu Lobo, Caetano Veloso.





Do lado português (Festivais RTP), destacamos a participação de Eduardo Nascimento que, de origem angolana, foi o primeiro negro a pisar o Eurovisão (sendo inclusive usado para demonstrar integração racial entre Portugal e suas colônias). Temos ainda a canção A Tua Cor Café, que embora interpretada por uma mulher branca, Cristina Roque, faz clara alusão à aceitação racial. A cantora, de origem cabo-verdiana, Sara Tavares, também mostra um Portugal mais apto para a aceitação, o que se dinamiza com a apresentação de Tó Cruz, com Baunilha e Chocolate, outra canção que traz de forma clara a ideia de integração entre diferentes etnias. Destacamos ainda a canção O Meu Coração Não Tem Cor, interpretada por Lúcia Moniz, que fala: “Estamos de maré, vamos dançar, vem juntar o teu ao meu sabor/ Põe esta canção a navegar que o meu coração não tem cor”.



Resumo apresentado no XI Fórum da Pós-Graduação da UFRRJ, 2016.

Nenhum comentário:

Postar um comentário