O
Brasil sempre foi conhecido pela sua diversidade e miscigenação racial. Não por
acaso, se criou no século XIX o mito do “Brasil Mestiço” e surgiu a ideia de
“democracia racial”. Nos Festivais da Canção, tal como em sua antecessora, a
“Era do Rádio”, não foi diferente. Podemos destacar a participação de representantes
de diferentes etnias, dentro dos certames e, mesmo quando não presentes,
encontram-se referências à sua cultura. Este último é o caso dos ameríndios que
na canção Mira Ira, interpretada por
Raíces de América, tem representação de instrumentos (flauta pã) e língua
(tupi). Os afrodescendentes tem grande representação nos festivais, desde
canções relacionadas à sua cultura e religiosidade até a incorporação de gêneros
estrangeiros como a soul music,
passando ainda pelo samba e cantiga de capoeira. O número de brancos também é
expressivo nos festivais, contando com nomes que vão de Chico Buarque e Elis
Regina a Oswaldo Montenegro e Lucinha Lins. E podemos incluir ainda mestiços
como Jards Macalé e Jorge Ben e outros com traços como Edu Lobo, Caetano Veloso.
Do
lado português (Festivais RTP), destacamos a participação de Eduardo Nascimento
que, de origem angolana, foi o primeiro negro a pisar o Eurovisão (sendo
inclusive usado para demonstrar integração racial entre Portugal e suas
colônias). Temos ainda a canção A Tua Cor
Café, que embora interpretada por uma mulher branca, Cristina Roque, faz
clara alusão à aceitação racial. A cantora, de origem cabo-verdiana, Sara
Tavares, também mostra um Portugal mais apto para a aceitação, o que se
dinamiza com a apresentação de Tó Cruz, com Baunilha
e Chocolate, outra canção que traz de forma clara a ideia de integração
entre diferentes etnias. Destacamos ainda a canção O Meu Coração Não Tem Cor, interpretada por Lúcia Moniz, que fala: “Estamos
de maré, vamos dançar, vem juntar o teu ao meu sabor/ Põe esta canção a navegar
que o meu coração não tem cor”.
Resumo apresentado no XI Fórum da Pós-Graduação da UFRRJ, 2016.