sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Modinha: Um estudo etimológico sobre o termo


Modinha é um gênero musical que está nas raízes da musicalidade do Brasil e de Portugal. Esse gênero é proveniente das populações rurais portuguesas que migraram tanto para os grandes centros urbanos de Portugal quanto para as diversas colônias do Império Português, levando suas tradicionais canções, a que chamaram “modas”. A moda portuguesa encontra na colônia da América um lugar propício para se desenvolver e aos poucos se hibridiza com o lundu, música praticada pelos negros da colônia, originando a partir daí a “modinha brasileira”, caracterizando um gênero próprio, que quando levado a Portugal, encantou a corte e a sociedade portuguesa setecentista.
Entre os possíveis meios pelos quais a modinha brasileira chegou a Portugal, podemos acreditar que foi através daqueles que vieram para a colônia da América, por volta de finais do século XVII e inícios do XVIII, em busca do ouro recém descoberto na região mineradora e que depois retornaram para a metrópole. Outra hipótese é a de que o introdutor do gênero na metrópole tenha sido o brasileiro Antônio José da Silva, o Judeu, que utilizava modinhas em suas óperas, mas essa versão é contestada por Mozart de Araújo (1964). Um consenso entre a maioria dos historiadores e estudiosos é a ideia de que foi o mulato brasileiro Domingos Caldas Barbosa o responsável pela introdução da modinha brasileira em Portugal, pois, após passar sua juventude em contato com modinhas e lundus no Rio de Janeiro, onde exercia seu ofício de improvisador, chega na metrópole (c. 1963), levando também os gêneros praticados na colônia, bem como a moleza e languidez americanas, com as quais encantou a nobreza e sociedade portuguesa. Em sua Viola de Lereno, Caldas Barbosa deixa claro que praticava o gênero na metrópole:
Ora a Deos, Senhora Ulina;
Diga-me, como passou;
Conte-me, teve saudades;
Não, não;
Nem de mim mais se lembrou;

O amor antigo
Já lhe passou;
E a fé jurada?
Tudo gorou.

Diga, passou bem no campo?
Divertio-se! passeou!
Acaso lhe fiz eu falta?
Não, não,

Era bom o seu Burrinho,
Ou sómente a pé andou?
Lembrou quem lhe dava o braço?
Não, não,

Cantou algumas Modinhas?
E que Modinhas cantou?
Lembrou-lhe alguma das minhas?
Não, não,

Ha de dizer, que eu lembrava,
E que por mim suspirou;
Não ha tal: bem a conheço:
Não, não,  (BARBOSA, 1798: 15-13[1]).

É certo também que Caldas Barbosa entoava suas modinhas sempre acompanhado de sua viola, como evidencia um poema de seu coetâneo, e também algoz, Bocage, no qual descreve as famosas Quartas-Feiras de Lereno, agremiação poética da Nova Arcádia presidida por Caldas Barbosa, cujo epíteto árcade era Lereno Selinuntino:

Preside o neto da rainha Ginga
A corja vil, aduladora, insana;
Traz sujo moço amostras de chanfana,
Em copos desiguais se esgota a pinga.
Vem pão, manteiga e chá, tudo à catinga;
Masca farinha a turba americana;
E o orang-utang a corda a banza abana,
Com gestos e visagens de mandinga.
Um bando de comparsas logo acode
Do fofo Conde ao novo Talaveiras;
Improvisa berrando o rouco bode;
Aplaudem de contínuo as frioleiras
Belmiro em Ditirambo, o ex-frade em Ode,
Eis aqui do Lereno as quartas-feiras (BOCAGE apud CASCUDO, 1958: 19).

Observando o verso “E o orangotango a corda a banza abana” e se levarmos em conta que “banza” (ou “mbanza”) era o nome de um instrumento de cordas africano, notamos que Bocage se refere a “abanar”, “balançar”, “tanger” as cordas da viola, da qual fica claro que Caldas Barbosa se acompanhava.
De acordo com Teófilo Braga (1901), a modinha teria herdado a forma poética da serranilha, que se conservou nas obras de Sá de Miranda, Gil Vicente e Luís de Camões, e elementos musicais do soláo, canto lírico melancólico, triste e mavioso, de tradição oral, próximo da xácara (de influência arábica). Essas mesmas formas poéticas e musicais transitaram entre os palácios e a lírica popular dos jograis e menestréis, influenciando-se mutuamente. Rodney Gallop já alertava sobre o fato de a poesia luso-galaica se dividir em duas classes: “imitações do provençal, e poemas que foram buscar inspiração às canções bailadas do povo” (GALLOP, 1937: 14).
As modinhas faziam as delícias dos serões das famílias portuguesas setecentistas mais ilustres e também eram o deleite das açafatas do palácio e dos viajantes que por ali passavam, mas também foi praticada por religiosos, populares e até mandriões. Sobre isto, Manuel Morais nos esclarece que: “A prática da modinha, [...] percorre todos os grupos sociais, desde a nobreza, a burguesia e o clero (tanto monástico como secular) chegando o seu uso à criadagem e aos assalariados urbanos. [...] Ela foi usada, abusada e adulterada, por todas as classes sociais portuguesas, descendo até às mais baixas por mimetismo” (BARBOSA; MORAIS, 2009: 82-84).
Após ter grande sucesso na corte e sociedade portuguesa na segunda metade do século XVIII, a modinha, agora europeia e influenciada pela ópera italiana (contrastando com a remanescente da colônia), acompanha a família real que migrara para o Brasil com seu séquito em virtude das invasões francesas. A modinha começa a ser repatriada pelas elites, mas logo todos tomam gosto pela prática do gênero e a modinha vai aos poucos deixando os candelabros dos salões para ser entoada pelos seresteiros e boêmios nas noites enluaradas, sem deixar de ser praticada nos pianos das moças das famílias mais abastadas, que viam nas “doces e suaves modinhas”, como as descreveu Cernicchiaro (1926), seus ideais de romantismo e perfeição feminina.
Ferdinand Denis, em seu Résumè de l’histoire littéraire du Portugal, suivi du résumé de l’histoire littéraire du Brésil, chega a contrastar a modinha, notadamente popular, com a obra de Rossini:

A música [no Brasil] é cultivada por todos os estratos, ou melhor, ela faz parte da existência do povo, que dá encanto aos seus tempos livres cantando e que se esquece mesmo dos cuidados de um trabalho penoso todas às vezes que ouve os simples acordes de uma viola ou de um bandolim. Enquanto a música de Rossini é admirada nos salões, porque é cantada com uma expressão que nem sempre se encontra na Europa, os simples artesãos percorrem as ruas até a noite repetindo estas encantadoras modinhas, que é impossível de ouvir sem ser vivamente comovido; quase sempre servem para pintar os devaneios do amor, as suas penas ou a sua esperança; as palavras são simples, os acordes repetitivos de uma maneira bastante monótona; mas há, por vezes, um encanto em sua melodia, e por vezes uma tamanha originalidade, que o europeu recém chegado não pode cansar-se de as ouvir, e compreende a indolência melancólica desses bons cidadãos que ouvem durante horas seguidas as mesmas canções (DENIS, 1826: 581-582, tradução nossa, grifo do autor).

Todavia, se a modinha, recém-chegada da Europa, encontra reduto, inicialmente, junto a família real no Rio de Janeiro, nova capital do Império, logo vai se espalhar por várias outras regiões sendo praticada desde o Sul, Santa Catarina, até o Norte, Rio Grande do Norte, passando por Goiás, Minas Gerais, São Paulo, entre outros.
Em referência às suas características, a modinha é geralmente monótona, plangente, melancólica e até funesta. Um grande exemplo de sua melancolia é a poesia da modinha Desde o dia em que eu nasci, de Joaquim Manoel da Câmara:

“Desde o dia em que eu nasci
Naquele funesto dia
Veio bafejar-me o berço
A cruel melancolia.
Fui crescendo e nunca pude
Ver a face de alegria
Foi sempre a minha herança
A cruel melancolia.
Protestou seguir meus passos
Té levar-me à campa fria
Macerou minha existência
A cruel melancolia.” (CÂMARA, [c.1817-1819] 2017, pp. 01-02).

A modinha ainda resiste na poética e musicalidade luso americana, devido ao romantismo, lirismo, melancolia, etc., que ainda hoje são incluídos nas canções, mas sem dúvidas, não existe mais enquanto gênero, propriamente dito, ou de forma rarefeita, ou ao menos não o mesmo que existiu entre os séculos XVIII e XX, ou seja, aquele que, ainda que com grandes variações, permaneceu durante cerca de dois séculos.


[1] As grafias das citações aqui incluídas serão mantidas no original, ou o mais próximo possível do original




Este texto é parte do artigo "Modinha: Um estudo etimológico sobre o termo", publicado na Revista 
Intellèctus, ano XVII, n. 1, 2018. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/intellectus/article/view/25291/25711

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Festival RTP da Canção 2018


Mais uma vez se aproxima o Festival RTP da Canção em Portugal, que neste ano será no Pavilhão Multiusos de Guimarães (nos dias 18 e 25 de fevereiro, com a final no dia 04 de março de 2018), excepcionalmente, devido ao país ter pela primeira vez vencido o Festival Eurovisão da Canção, em 2017, o que lhe atribui o direito de sediar também o festival europeu, que terá sua 63ª edição nos dias 08, 10 e 12 de maio de 2018, em Lisboa, onde geralmente se realiza o festival português. Por isso, vamos deixar abaixo um resumo dos Festivais RTP para que possamos conhecer um pouco mais sobre este evento:



Surgido em 1964 com a finalidade de escolher uma canção para representar Portugal no Festival Eurovisão[1], o Festival RTP da Canção completa em 2014 cinquenta anos. Em toda a sua existência, o festival português passou por diversas fases, nunca, no entanto, Portugal chegou a vencer o Eurovisão, tendo como melhor colocação de sempre um sexto lugar com o tema “O meu Coração não tem Cor” (Pedro Osório/ José Fanha), interpretado por Lúcia Moniz, em 1996. O Festival RTP da Canção, no decorrer de sua história, tem animado a produção nacional e serve de plataforma para novos talentos, novas canções e, com isso, de novos autores. Como nos explica Vasco Hogan Teves:
O objectivo de chegada ao palco europeu da canção, anualmente proporcionado pela RTP, constitui razão de ser do seu próprio Festival. A principal, claro que sim, mas não a única, já que está aí a grande festa da música de que não é possível prescindir. Por outro lado, o ‘Festival RTP da Canção’ tem revelado dezenas de intérpretes, enquanto outros, não poucos, lhe devem a consagração junto do público. Mas os autores – sempre se diz, mas quase sempre se esquece, que o Festival não é de intérprete mas sim de autores – esses, principalmente, têm encontrado no certame anual da RTP um dos raros motivos que existem entre nós para produzirem e apresentarem publicamente os seus trabalhos. (TEVES, 2007, n.p.) [2]
É notável a contribuição que fizeram os Festivais RTP da Canção para a música portuguesa em seus vários aspectos. Segundo a Enciclopédia da Música em Portugal no século XX, organizada por Salwa Castelo-Branco: “Durante as últimas quatro décadas do séc. XX [o Festival RTP da Canção] contribuiu decisivamente para a produção de repertório inédito, concretamente de canções, para a emergência de novos estilos e para a mediatização de intérpretes no âmbito da música ligeira ou da música popular.” (CÉSAR; TILLY; CIDRA, 2010, p. 501).
Notamos, portanto, que o Festival RTP da Canção é importante não só para os intérpretes, devido à exposição que encontram nesse festival de repercussão internacional (embora o Festival RTP nunca tenha contribuído de fato para a projeção de artistas portugueses além fronteiras), mas principalmente para os autores, responsáveis pela criação das canções e que a cada dia se renovam e renovam o festival. E não só isso, o festival movimenta todo um aparato para sua realização que envolve produtores, equipes técnicas, imprensa e tudo que é necessário para sua produção e difusão.
Ademais, o Festival RTP da Canção se volta para a expressão da alma portuguesa, na medida que a canção vencedora tem a incumbência de representar Portugal no Festival Eurovisão, concorrendo com diversas outras nacionalidades. A partir desse momento, procura-se integrar às canções os elementos constituintes que identificam o povo português, seu gosto musical, seus símbolos nacionais, e tudo aquilo que de alguma forma caracterize uma identidade nacional portuguesa, encontradas em referências aos feitos do passado (como às glórias do período da Expansão Marítima Portuguesa), aos mitos (à exemplo da lenda de Brites de Almeida, a padeira da Batalha de Aljubarrota), ao mar, ao pinho, ao milho, ao trigo, ao alecrim, ao cravo vermelho[3], ao fado e ainda a expressões do folclore português, como o malhão, o vira ou os caretos de Trás-os-Montes. Em outras palavras, as canções que concorrem no festival português, procuram falar por seu país.
O Festival RTP da Canção, cuja história não se dissocia da Rádio e Televisão de Portugal (RTP), teve sua primeira edição em 1964, e, com raríssimas exceções, foi realizado todos os anos até os dias de hoje, algumas vezes, no entanto, sem o intuito de concorrer no Festival Eurovisão, mas apenas para consumo interno. Noutras, optou-se pela não realização do certame. Passaremos agora a conhecer um pouco mais sobre esse festival, que chega agora ao seu cinquentenário.

Breve histórico do Festival RTP da Canção.

Em 1964, ainda sob o nome de Grande Prémio TV da Canção Portuguesa (denominação que duraria até 1975), realiza-se o primeiro festival para selecionar uma canção portuguesa para o IX Festival Eurovisão da Canção, a ser realizado em Copenhagen, Dinamarca. A canção vencedora foi “Oração” (Francisco Nicholson/ Rogério Bracinha/ João Nobre), interpretada por António Calvário. No Eurovisão, a canção obteria indesejados nul points. Era o início do calvário eurovisivo português.




No ano seguinte, outra representante do nacional-cançonetismo, “Sol de Inverno” (Nóbrega e Sousa/ Jerónimo Bragança), interpretada por Simone de Oliveira. Talvez devido ao seu magnetismo, Simone viria a alcançar 1 ponto naquele Eurovisão de Nápoles, Itália, conquistando a 13ª posição.
Em 1966, o ié-ié “Ele e Ela” (Carlos Canelhas), interpretado por Madalena Iglésias, que mostrou-se muito mais extrovertida, repetiu a 13ª posição alcançada no ano anterior.
Outro ié-ié venceu o certame de 1967, “O Vento Mudou” (Nuno Nazareth Fernandes/ João Magalhães Pereira), interpretado por Eduardo Nascimento, cantor de origem angolana que se tornou o primeiro negro a representar Portugal no Eurovisão, uma forma que o regime salazarista encontrou para se mostrar incluso em uma política de integração racial. Ficou em 12º entre os 17 concorrentes.
Já em 1968, foi a vez do rock “Verão” (Pedro Correia Vaz Osório/ José Alberto Magro Diogo), interpretado por Carlos Mendes. No entanto, a canção causou grande furor e acabou não agradando a alguns, sendo duramente criticada[4]. Ficou na 11º colocação entre os 17 países que concorreram.




No ano de 1969, sagrou-se vencedora a canção “Desfolhada” (Nuno Nazareth Fernandes/ José Carlos Ary dos Santos), interpretada por Simone de Oliveira, canção com muito de portuguesa e de grande impacto, alinhada ao “canto de intervenção”[5]. Mesmo com toda expectativa criada em torno da canção, Portugal ficaria apenas com o 15º lugar entre os 16 países candidatos, o que foi considerado uma grande injustiça e levou Portugal a decidir não participar do certame europeu no ano seguinte.



Mesmo se afastando do eurofestival, em 1970, a RTP realiza um festival apenas para consumo interno em que saiu vencedora a canção “Onde vais Rio que Eu Canto” (Carlos Nobrega e Sousa/ Joaquim Pedro Gonçalves), com interpretação de Sérgio Borges.
Visando retornar ao Eurovisão, a RTP realiza em 1971 mais um certame onde venceu a canção “Menina do Alto da Serra” (Nuno Nazareth Fernandes/ José Carlos Ary dos Santos), interpretada por Tonicha. A canção garantiu o 9º lugar em Dublin, Irlanda, melhor colocação de Portugal até então.
Entusiasmada com o resultado do ano anterior, a RTP realiza em 1972 um novo festival, este somente com intérpretes masculinos, vencendo a canção “A Festa da Vida” (José Calvário/ José Niza), interpretada por Carlos Mendes, outra canção alinhada ao “canto de intervenção”, repleta de metáforas contra o regime marcelista, alcançando o 7º lugar e melhorando a posição de Portugal no Eurovisão.
No ano seguinte, vence mais uma canção representante do “canto de intervenção”, “Tourada” (Fernando Tordo/ José Carlos Ary dos Santos), que chegou a receber um veto, mas que depois foi retirado. No festival europeu Fernando Tordo deixou Portugal em 10º lugar entre os 17 concorrentes.
A RTP manteve os ânimos e em 1974, às vésperas do fim da ditadura no país, realizou um novo festival no qual venceu a canção “E Depois do Adeus” (José Calvário/ José Niza), interpretada por Paulo de Carvalho. A canção foi usada como uma das senhas para a Revolução de 25 de Abril, tornando-se uma das mais conhecidas canções portuguesas[6]. Entretanto, a canção ficou entre os últimos colocados no Eurovisão de Brighton, no Reino Unido, ex aequo Noruega, Suíça e Alemanha.




Com o fim da ditadura no país, as canções tonaram-se mais diretas, a exemplo da vencedora de 1975, “Madrugada” (José Luís Tinoco), interpretada por Duarte Mendes (um dos capitães do 25 de Abril), canção cujo teor revolucionário também pode ter pesado na decisão dos jurados. Entretanto, no Eurovisão de Estocolmo, Suécia, a canção obteve apenas o 16º lugar entre 19 concorrentes.
Em 1976, com Portugal ainda se reestruturando sob o novo regime democrático, o festival ganha outro nome, “Uma Canção para Europa”. Todas as oito canções concorrentes foram interpretadas por Carlos do Carmo (renomado fadista), sagrando-se vencedora a canção “Uma Flor de Verde Pinho” (José Niza/ Manuel Alegre). Foi por muitos considerado o melhor festival de sempre promovido pela RTP. Entretanto, no Eurovisão Carlos do Carmo alcançou apenas o 12º lugar.
No ano seguinte, insatisfeita com os resultados anteriores, a RTP realiza o festival sob o nome de “As Sete Canções”, mudando o sistema de seleção, agora seriam apresentadas sete canções em duas versões cada uma. Saiu campeã a versão A da canção “Portugal no Coração” (Fernando Tordo/ José Carlos Ary dos Santos), interpretada por Os Amigos, mas que no Eurovisão só obteve o 14º lugar.
Já em 1978, o festival foi realizado sob o nome de “Uma Canção Portuguesa”. Foi a vez da afirmação do novo pop português e do playback instrumental. Venceu a canção “Dai li Dou” (Victor Mamede/ Carlos Quintas), interpretada pelo grupo Gemini, uma canção dançante, mas que no Eurovisão chegou somente ao 17º lugar entre os 20 países candidatos.
No ano de 1979, o festival recebe seu nome definitivo, Festival RTP da Canção, ocorre uma volta da orquestra e há também mudanças na forma de seleção, sendo realizado em três semifinais. Saiu vencedora a canção “Sobe, Sobe, Balão Sobe” (Carlos Nóbrega e Sousa), interpretada por Manuela Bravo, ajudando Portugal a conquistar o 9º lugar no Eurovisão de Jerusalém, em Israel. Foi um período áureo, pois boa parte da população parava em frente ao ecrã para assistir ao festival.
No ano seguinte, ocorre a primeira transmissão televisiva regular em cores de Portugal, escolhendo justamente o Festival RTP da Canção para sua primeira transmissão. A campeã desse ano foi a canção “Um Grande, Grande Amor” (José Cid), interpretada pelo próprio autor. “Foi a primeira vez que a canção portuguesa incluiu palavras de outras línguas (inglês, francês, italiano e alemão) em sua letra.” (NEVES, 2011, p. 104), fato que pode ter auxiliado na conquista do 7º lugar no Eurovisão.
Em 1981, mesmo com o sucesso do ano anterior, o festival volta ao formato antigo e é realizado em um único dia. Saiu vencedora a canção “Playback” (Carlos Paião), interpretada por Carlos Paião. No Eurovisão daquele ano Portugal ficou com a penúltima posição, entre os 20 concorrentes.
No XIX Festival RTP da Canção, realizado em 1982, saiu campeã a canção “Bem Bom” (António Pinho, Pedro Brito, Tozé Brito), interpretada pelo grupo Doce, que pode ser considerada uma das primeiras girls bands do mundo, mas que no Eurovisão ficou apenas com o 13º lugar.
Em 1983, o festival realiza-se no Coliseu do Porto, o primeiro a ser realizado fora de Lisboa. Escrita e interpretada por Armando Gama, sagrou-se vencedora a canção “Esta Balada que te Dou”, que ficou também com o 13º lugar, no Eurovisão de Munique, Alemanha.
Outra balada a representar Portugal no festival europeu foi “Silêncio e Tanta Gente” (Maria Guinot) (hoje um clássico da música portuguesa), interpretada pela autora, que se apresentou no Eurovisão somente ao piano e acompanhada de uma corista, alcançando o 14º lugar.
Já em 1985, venceu a canção “Penso em Ti (Eu Sei)” (Tozé Brito/ Luis Fernando/ Adelaide Ferreira), interpretada por Adelaide Ferreira, que mesmo apesar da excelente participação (Adelaide chegou a terminar a apresentação de joelhos) e de todas as expectativas, ficou com o penúltimo lugar entre os 19 países concorrentes naquele Eurovisão de Gotemburgo, na Suécia.
Pondo fim ao ciclo das baladas, em 1986 a vencedora foi uma canção bem dançante, em sintonia com o pop britânico em voga no período, “Não Sejas Mau p’ra Mim” (Guilherme Ines/ Zé da Ponte/ e Luis Oliveira), interpretada por Dora, que atingiu o 14º lugar no Eurovisão de Bergen.
O festival de 1987 foi realizado no Cassino Park Funchal. Para diminuir os gastos, a RTP restringiu o festival a seis canções, saindo campeã “Neste Barco à Vela” (João Mendes/ Alfredo Azinheira), interpretada pelo duo Nevada, alcançando o 18º lugar no Eurovisão daquele ano.
Em 1988, realiza-se a “I Selecção Interna para o Eurofestival”, contando com uma pré-seleção com o nome de “Prémio Nacional de Música”, realizada no Cassino da Figueira da Foz. A grande vencedora foi a canção “Déjà Vu” (Zé da Ponte/ Guilherme Inês/ Luís Oliveira), interpretada por Dora, que ficou apenas com o 18º lugar no Eurovisão, realizado novamente em Dublin.
Voltando a uma seleção regular, em 1989, sagrou-se vencedora a canção “Conquistador” (Ricardo/ Pedro Luís), interpretada pela banda Da Vinci, uma canção que reportava ao período dos Descobrimentos e das grandes navegações. Entretanto, no Eurovisão daquele ano, realizado em Lausanne, Suíça, os Da Vinci conquistaram apenas o 16º lugar, entre os 22 países que concorreram.
No ano seguinte, saiu campeã a canção “Sempre (Há Sempre Alguém)” (Luis Felipe/ Jan Van Dijck/ Francisco Teotónio Pereira/ Frederico Teotónio Pereira), interpretada por Nucha, que representou Portugal no Eurovisão de Zagreb, (Croácia) ex-Iuguslávia, mas só alcançou o 20º lugar.
Em 1991, venceu a canção “Lusitana Paixão” (Fred Micael/ Zé da Ponte/ Jorge Quintela), interpretada por Dulce Pontes, canção que falava sobre o fado e que foi interpretada de forma ímpar no Eurovisão de Roma, Itália, garantindo para Portugal o 8º lugar, o melhor resultado desde 1980.
Devido ao sucesso alcançado no ano anterior, a RTP realizou em 1992 um festival com cinco semifinais. A vencedora foi a canção “Amor d’Água Fresca” (Dina/ Rosa Lobato de Faria), interpretada por Dina, que representou Portugal no Eurovisão de Malmö, alcançando o 17º lugar.
O formato com cinco semifinais foi repetido em 1993, sagrando-se vencedora a canção “A Cidade (Até ser Dia)” (Pedro Abrantes/ Marco Quelhas/ Paulo da Costa), interpretada por Anabela, então com apenas 16 anos, mas já com alguma experiência em grandes festivais. No Eurovisão de Millstreet, na Irlanda, Anabela alcançou o 10º lugar entre os 25 concorrentes. 
Em 1994, a vencedora foi a canção “Chamar a Música” (João Carlos Mota Oliveira/ Rosa Lobato de Faria), interpretada por Sara Tavares, jovem de ascendência cabo-verdiana, que contava também com apenas 16 anos. A canção arrebatou todos os prêmios que estavam a concurso (intérprete, letra, orquestração) e recebeu o máximo de pontos de todos os 22 distritos que compunham o júri nacional. Em Dublin, Sara Tavares, que se tornou a primeira negra (e até hoje a única) a representar Portugal no Eurovisão, teve chances inclusive de vencer o festival, mas terminou com o 8º lugar.
A RTP, entusiasmada com os sucessos consecutivos nos dois anos anteriores, realizou em 1995 um novo festival em que saiu vencedora a canção “Baunilha e Chocolate” (António Vitorino de Almeida/ Rosa Lobato de Fria), interpretada por Tó Cruz (assim como Sara Tavares, de ascendência cabo-verdiana). A canção falava sobre questões como a mestiçagem e a aceitação racial. Entretanto, no Eurovisão daquele ano, Portugal alcançou apenas o 21º lugar entre os 23 candidatos.




No ano seguinte, sagrou-se vencedora a canção “O meu Coração não tem Cor” (Pedro Osório/ José Fanha), interpretada por Lúcia Moniz. Segundo a imprensa, “O tom ‘corridinho’ e ‘saltadinho’ de raiz popular portuguesa, assim como o tropical sabor ‘de figo de papaia e guaraná’ terá convencido o júri.” (Público, nº 2190, 09 mar. 1996: 28[7]). Com esta canção, Portugal alcançaria sua melhor colocação de sempre no Eurovisão, o 6º lugar entre os 23 países que concorreram em Oslo, na Noruega.




Em detrimento do enorme sucesso em 1996, segue-se uma derrocada. A canção vencedora do festival português de 1997, “Antes do Adeus” (Thilo Krasmann/ Rosa Lobato de Faria), interpretada por Célia Lawson, terminou o Eurovisão dividindo o último lugar com a Noruega, com nul points.
No ano seguinte, com a canção “Se Eu Te Pudesse Abraçar” (José Cid), interpretada pelo grupo Alma Lusa, Portugal voltaria a alcançar uma melhor colocação, o 12º lugar entre os 25 concorrentes.
Em 1999, saiu vencedora a canção “Como Tudo Começou” (Jorge do Carmo/ Tó Andrade), interpretada por Rui Bandeira, que naquele Eurovisão de Jerusalém, ficou apenas com o 21º lugar.
No ano de 2000, devido ao aumento de países querendo participar do Eurovisão, a UER decidiu que os países com baixa pontuação nos últimos três anos ficariam de fora, Portugal, então, não participou. Mas, ainda assim, a RTP realizou um festival nacional, onde saiu vencedora a canção “Sonhos Mágicos” (Maria da Conceição Norte/ Gerardo Rodrigues), interpretada por Liana.
Portugal, por não ter participado no ano anterior, ganhou o direito de ter um representante no Eurovisão de 2001. Nesse ano venceu a canção “Só Sei ser Feliz Assim” (Marco Quelhas), interpretada pelo duo MTM, que no Eurovisão alcançaram o 17º lugar. Os integrantes do MTM (sigla com as iniciais de Marco, Tony e Música) apresentaram-se vestindo ternos de cor oposta ao de sua pele, branco para Tony e preto para Marco, talvez dando mostras de um Portugal mais integrado etnicamente.
Decepcionada com os maus resultados, a RTP decidiu por conta própria não participar do Eurovisão de 2002, nem mesmo foi realizado um certame nacional.
Já em 2003 o Festival RTP da Canção foi realizado em conjunto com o reality show musical Operação Triunfo. Rita Guerra foi indicada para interpretar as três canções concorrentes, entre as quais saiu vencedora “Deixa-me Sonhar (Só Mai Uma Vez)” (Paulo Tomé Martins da Encarnação), com 75% dos votos, apurados através do televoto (ligações telefônicas e SMS). Com uma versão da canção tendo os últimos versos cantados em inglês, Rita Guerra obteve apenas o 22º lugar em Riga, na Letônia.
Em 2004, ano em que a UER implantou um sistema de semifinal e final no Eurovisão, o Festival RTP da Canção foi novamente realizado em conjunto com o programa de caça-talentos Operação Triunfo. “A RTP entregou uma canção a cada um dos 3 vencedores da Operação Triunfo 2 e colocou nas mãos dos portugueses a decisão.” (Festivais da Canção [online][8]). Saiu campeã a canção “Foi Magia” (Paulo Neves), conferindo o direito de Sofia Vitória representar Portugal no Eurovisão de Istambul, na Turquia, onde acabou ficando pela semifinal, em 15º lugar entre os 22 concorrentes.
Visando o corte de gastos, a RTP realizou em 2005 a “II Selecção Interna para o Eurofestival”, de modo que foi apresentada uma única canção, bilíngue, cantada em português e em inglês, intitulada “Amar” (Alexandre Honrado/ Ernesto Leite/ José da Ponte), interpretada pelo duo 2B. Em Kiev, na Ucrânia, o duo foi eliminado na semifinal, ficando com o 17º lugar entre os 25 países concorrentes.
Na edição de 2006 saiu campeã a canção “Coisas de Nada” (José Manuel Afonso/ Elvis Veiguinha), interpretada pelo grupo Nonstop. No Eurovisão de Atenas, Grécia, o girls group não fez uma boa apresentação, ficando pela semifinal, em 19º lugar entre os 23 concorrentes.
Já em 2007, venceu a canção “Dança Comigo (Vem ser Feliz)” (Emanuel/ Tó Maria Vinhas), interpretada por Sabrina. A canção foi eliminada já na semifinal do Eurovisão, em 11º lugar.
No ano de 2008, cria-se novamente grande expectativa em torno da canção vencedora, “Senhora do Mar (Negras Águas)” (Carlos Coelho/ Adrej Babič), interpretada por Vânia Fernandes. E a canção correspondeu às expectativas, levando Portugal à final daquele Eurovisão de Belgrado, na Sérvia. Na final, entretanto, Vânia alcançou apenas o 13º lugar, entre os 25 países concorrentes.



No ano seguinte, entre as 12 concorrentes, a canção vencedora foi “Todas as Ruas do Amor” (Pedro Marques/ Paulo Pereira), interpretada pelo grupo Flor-de-Lis. Os Flor-de-Lis passaram da semifinal do Eurovisão de Moscou, Rússia, em oitavo lugar. Na final, no entanto, apesar de o grupo se mostrar muito bem integrado, a canção ficou apenas com o 15º lugar.
Em 2010, o festival iniciou com uma pré-seleção das canções pela internet que contou com 30 canções, escolhidas entre os 420 originais recebidos. Seguiu-se a essa fase duas semifinais, onde terminou vencendo a canção “Há Dias Assim” (Augusto Madureira), interpretada por Filipa Azevedo que levou Portugal novamente à final do Eurovisão, onde, no entanto, ficou com o 18º lugar.
Com o agravamento da crise econômica em Portugal, a RTP decidiu realizar em 2011 o festival em um formato mais simples, de modo que foi feita uma pré-seleção pela internet, em que os cibernautas puderam votar em 24 canções, entre as quais classificavam-se 12 canções para a final. Venceu a canção “A Luta é Alegria” (Nuno Duarte/ Vasco Duarte), interpretada pelo grupo Homens da Luta, grupo musical que parodia os “cantos de intervenção” do período revolucionário. No Eurovisão os Homens da Luta não agradaram e receberam muitas vaias, o que já havia ocorrido no próprio Festival da RTP, quando foram anunciados vencedores. Comentou-se que os Homens da Luta representavam bem a insatisfação da população ante a crise econômica que se abatia sobre Portugal, mas parece que o tom cômico da apresentação pesou para que ocorressem as vaias, despertando a insatisfação dos portugueses e do público eurovisivo. O grupo ficou pela semifinal do Eurovisão.
Já em 2012, o tema do festival foi o fado, que havia se tornado Patrimônio da Humanidade em 2011, de modo que todas as canções fizeram menção ao gênero. A vencedora, “Vida Minha” (Carlos Coelho/ Andrej Babič), interpretada por Filipa Sousa, tinha mesmo ares de fado, incorporando guitarra portuguesa e acordeão, mas com arranjos modernos incluindo samplers e loops rítmicos. No Eurovisão de Baku, Azerbaijão, acabou ficando com o 13º lugar na semifinal que participou, não conseguindo, portanto, passar para a final.
No ano de 2013, por motivos econômicos, Portugal não participou do Eurovisão.
Em 2014, comemorou-se os cinquenta anos do Festival RTP da Canção. A canção vencedora foi “Quero Ser Tua (Como a Lua é do Luar)” (Emanuel), interpretada por Suzy, ganhando o direito de representar Portugal no Eurovisão de Copenhagen, na Dinamarca, exatamente onde Portugal teve sua primeira participação cinquenta anos antes. Mas a canção ficou apenas com o 12º lugar entre os 16 concorrentes da semifinal que participou.
Em 2015 a canção vencedora do festival português foi " um Mar que Nos Separa" (Miguel Gameiro), interpretada por Leonor Andrade, um pop-rock com certos ares de fado, mas que foi aparentemente pouco competitivo no contexto eurovisivo.



Em 2016 a RTP optou por não participar do Eurovisão, mas no ano seguinte a situação se inverteria drasticamente, quando a vencedora do festival português, "Amor pelos Dois" (Luísa Sobral), interpretada pelo irmão da autora, Salvador Sobral, venceria também o Eurovisão, de Kiev, Ucrânia, sendo a primeira vitória entre todas as participações portuguesas no eurofestival, dando também o direito de Portugal sediar pela primeira vez o festival europeu, a ser realizado em maio de 2018. "Amor pelos Dois", que lembra mais uma valsinha, bem diferente das catárticas canções eurovisivas, logo ganhou inúmeras versões, sendo incluída até mesmo na trilha de abertura da novela brasileira Tempo de Amar








[1] O Festival Eurovisão da Canção (Eurovision Song Contest – ESC), criado em 1956 pela União Europeia de Radiodifusão (UER), foi idealizado por Marcel Bezençon e inspirado no Festival de San Remo (Festival della Canzone Italiana), iniciado em 1950, na Itália. Eurovision foi o primeiro nome da UER, cunhado pelo tablóide inglês The Evening Standard, em 1951. Igual iniciativa ocorreu na Ásia-Pacífico com a criação do Festival ABU da Canção (ABU TV Song Festival), em 2012.
[2] Disponível em: <http://213.58.135.110/50anos/50Anos/Livro/DecadaDe60/Do2ProgramaALuaEAo/Pag16> Acesso em: 19 jan. 2014.
[3] Neste ponto é interessante notarmos que o cravo vermelho não era visto como símbolo nacional até 1974, quando eclodiu a Revolução dos Cravos, a estes casos Eric Hobsbawn e Terence Ranger denominam “tradição inventada”, pertencendo, portanto, a um passado recente. Ver: HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence (orgs.). A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977, pp. 09-23. Nesse mesmo sentido, Stuart Hall nos mostra que: “No mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de identidade cultural. [...] Essas identidades não estão literalmente impressas em nossos genes. Entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se fossem parte de nossa natureza essencial.” (HALL, 2006, p. 47).
[4] Ver: ALMEIDA, L. P.; ALMEIDA, J. P.. Enciclop. da Música Ligeira Portuguesa. Lisboa: C. de Leitores, 1998, p. 148.
[5] Sobre o “canto de intervenção” ver: RAPOSO, E. M.. Canto de intervenção: 1964-1974. 3ª ed.. Lisboa: Público, 2007.
[6] A outra senha do 25 de Abril foi “Grândola, Vila Morena” (José Afonso), canção inspirada no cante alentejano. Ver: AFONSO, José. Cantigas do Maio. Orfeu, 1971.
[7] Disponível em: <http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/FESTIVAL/FestivaldaCancao_1996.htm> Acesso em. 09 fev. 2014.
[8] Disponível em: <http://festival04.no.sapo.pt/> Acesso em: 27 set. 2013.






Este texto é parte [adaptada] do artigo "Festival RTP da Canção: Os cinquenta anos do festival eurovisivo português", publicado na Revista Brasileira de Estudos da Canção, nº6, jul.-dez. 2014. Disponível em: http://rbec.ect.ufrn.br/data/_uploaded/artigo/N6/RBEC_N6_A6.pdf