Passado o carnaval 2015 no Brasil,
podemos conhecer um pouco mais sobre este gênero musical que hoje é considerado
um símbolo nacional brasileiro, o samba. Os baianos o querem baiano, os
cariocas o reclamam carioca, os paulistas têm seu jeito de fazê-lo, mas o fato
é que o samba é mesmo brasileiro, estando espalhado pelos quatro cantos do
país.
No século XIX, houve grande
migração de negros da Bahia para a então nova capital do país, o Rio de
Janeiro. Eles se fixaram em bairros como a Saúde e a Cidade Nova, exercendo
pequenas profissões, principalmente na estiva. Nesses bairros instalaram-se
também casas, chefiadas por mulheres baianas, conhecidas como tias, que
misturavam práticas religiosas e festejos, onde se destaca a casa da Tia Ciata.
Nessa casa, se encontravam apreciadores da cultura negra e nomes conhecidos da
música como Pixinguinha, João da Bahiana e Donga, para as chamadas “rodas de
samba”. Esses encontros eram repletos de improvisações musicais, de onde muitas
vezes resultavam versos e canções para o carnaval, foi assim que surgiu “Pelo
Telefone”, primeiro samba a ser gravado no Brasil, registrado por Donga, em
1916, e gravado na voz de Bahiano, em 1917.
Todavia alguns julgavam esse samba
inicial um pouco parecido com o maxixe (amaxixado), de modo que não se parecia
com o gênero tal como o conhecemos hoje. O samba toma formas mais parecidas com
a que conhecemos, quando um grupo de sambistas do bairro do Estácio, no Rio de
Janeiro (fundadores da primeira escola de samba, a Deixa Falar, encabeçados por
Ismael Silva), incorpora uma rítmica diferente aquele samba inicial. A música
síntese desta mudança é “Se Você Jurar”, de autoria de Ismael Silva, gravada em
1931.
É também na década de 1930 que
aparece o “Poeta da Vila”, Noel Rosa, que, surgido do grupo Bando dos Tangarás,
é responsável pelo enriquecimento poético do samba, através de pérolas como
“Feitiço da Vila”, “Com que Roupa”, entre muitas outras. Também surgido do
Bandos dos Tangarás, Almirante foi responsável pela gravação de “Na Pavuna”, em
1929, primeiro samba que trazia na gravação, diversos instrumentos de
percussão, resultado de uma aproximação com os sambistas originalmente dos morros.
É por esse tempo que o rádio passa
a imperar nos lares e o samba ganha grande espaço nas suas transmissões. Surge
nesse período nomes como Wilson Batista, Ataulfo Alves, Geraldo Pereira e Ary
Barroso, este último autor de “Aquarela do Brasil”, ícone do chamado “samba
exaltação”. A Bahia passa a ser, “bem”, representada por Dorival Caymmi. Também
é nestes tempos que o samba conhece sua internacionalização, através da
“Pequena Notável”, Carmem Miranda, que se tornara, com seu Bando da Lua, uma
estrela de Hollywood.
Nas décadas de 1950 e 1960, há um
grande predomínio dos “sambas de morro”, destaque para nomes como Cartola,
Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento, Zé Kéti, entre outros. Em 1955, foi gravado
o primeiro “samba-enredo”, intitulado “Exaltação a Tiradentes”, na voz de
Roberto Silva, que deu o título de campeã do carnaval carioca à Império
Serrano, em 1949. Em 1963, foi inaugurado Zicartola, uma mistura de restaurante
e botequim, comandado por Cartola e sua mulher Zica (daí o nome do
estabelecimento), que reunia os grandes nomes da música deste período.
Pertencem a este tempo nomes como Hermínio Bello de Carvalho, Paulinho da
Viola, Geraldo das Neves, Martinho da Vila, Elza Soares, Ciro Monteiro, Bezerra
da Silva, Moreira da Silva, entre muitos outros. Também impulsionaram o samba
neste tempo os espetáculos “Opinião” e “Rosa de Ouro”, além da “I Bienal do
Samba”, em 1968. Por este período surge ainda o chamado “samba-rock”, com Jorge
Ben e Tim Maia e as Escolas de Samba ganham um maior profissionalismo,
promovendo desfiles cada vez mais grandiosos.
Nos anos 1970, surge no Cacique de
Ramos, no Rio de Janeiro, mais uma variação do samba, o “pagode”, cujo maior
expoente é o grupo Fundo de Quintal, mas que ressoa em nomes como Beth
Carvalho, Jorge Aragão, Almir Guineto, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Jovelina
Pérola Negra, entre outros. É também da mesma década o “sambão-joia” de Benito
de Paula, Agepê, Luiz Américo, Luiz Ayrão e Gilson de Souza.
Duas décadas depois, é o próprio
“pagode” que ganha uma variação, o “pagode romântico”, um “samba-pop” praticado
por grupos paulistas que se apresentavam com ternos e coreografias bem
ensaiadas. São exemplos deste estilo grupos como Raça Negra, Exaltasamba,
Katinguelê e os mineiros do Só Pra Contrariar. Esses grupos fizeram escola e
ainda hoje nomes como Belo, Sorriso Maroto, Jeito Moleque e o “pagodyeah” de
Thiaguinho, mantém o estilo.
Dentre outras variações do samba, podemos apontar o
samba-canção, o samba de roda, o samba-choro, o samba-exaltação, o sambolero, os
afro-sambas, a Bossa Nova, o sambalanço, o samba-jazz, o samba de gafieira e também o samba-funk, o samba-reggae e o samba-rap.
Sugestões
Bibliográficas:
SEVERIANO,
Jairo. Uma história da música popular brasileira: Das origens à modernidade.
São Paulo: Editora 34, 2008.
VIANNA,
Hermano. O Mistério do Samba. 6ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.;
Editora UFRJ, 2007.
Filmes:
Orfeu
Negro. Dir. Marcel Camus, 1959.
Orfeu. Dir.
Cacá Diegues, 1999.
Texto originalmente publicado no site da Fundacja Terra Brasilis, tradução para o polonês de Marek Cichy: http://terrabrasilis.org.pl/desde-que-samba-e-samba
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