segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Hino da Independência

 

A História tradicional conta que a Independência do Brasil foi conseguida no dia 07 de setembro de 1822, quando o príncipe regente D. Pedro I gritou “Independência ou Morte”, às margens do rio Ipiranga, transformando a ex-colônia portuguesa em uma monarquia e coroando D. Pedro como primeiro imperador do Brasil.

O episódio foi solenemente retratado por Pedro Américo em seu quadro Independência ou Morte, de 1888, mostrando o ato heroico do imperador que libertava os brasileiros da dominação colonial. A pintura é acusada de seguir um ímpeto nacionalista, e monarquista, que procurara valorizar a figura do imperador quando o Império já se encontrava desgastado. Além disso, contestadores e testemunhas asseguram que a cena não se deu como no quadro: que D. Pedro não estaria em um cavalo e sim em uma mula (!), mais apropriada para a subida da serra de Santos, de onde vinha o príncipe regente; que sua fisionomia não seria aquela, pois sofria de dores de estômago, em decorrência de algum alimento estragado que ingeriu; e que não era hábito de D. Pedro ser acompanhado por tantas pessoas como as que foram retratadas no quadro.


Independência ou Morte, de Pedro Américo, 1888.

 

A despeito destas questões, sempre foi ensinado que o Brasil tornou-se independente, tal como diz-se na letra do Hino Nacional Brasileiro, quando: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas/ De um povo heroico o brado retumbante”.

 D. Pedro I permaneceu no Brasil quando D. João VI regressou para Portugal com sua corte, em 1821, e era mesmo reconhecido como tendo mais apreço pelas terras brasileiras do que seu pai. Entretanto, dos Bragança, D. Pedro herdou não apenas as terras da colônia na América, mas também o gosto pela música.  De acordo com José Rolim Valença: “[…] a música corria no sangue de todos os Bragança: o primeiro rei da dinastia, D. João IV, foi dono de preciosíssima coleção de livros sobre música, grande parte dos quais destruída durante o terremoto de Lisboa, em 1755.” (VALENÇA, 1985, p. 95). Ademais, D. Pedro I era “apreciador e compositor de modinhas”:

“[…] gostava de cantar modinhas e tinha boa voz, além de ser também um profícuo pianista, tendo ele, juntamente com sua consorte D. Leopoldina e a Infanta D. Isabel Maria, tomado aulas com Sigismund Neukomm, seguindo o exemplo de seu pai, D. João VI, que sendo reconhecidamente um mecenas também tomou, quando jovem, aulas de teclas com João Cordeiro da Silva, organista da Capela Real do Palácio da Ajuda, em Lisboa. D. João VI, também é responsável pela introdução do piano e do estabelecimento das primeiras casas impressoras de música no Brasil, além de ter trazido vasto acervo musical (do qual muitas obras serviram ao padre José Maurício Nunes Garcia) e de ter repatriado a modinha em solo brasileiro, quando da vinda da família real.” (MONTEIRO, 2019, p. 147).

 

Primeiros Sons do Hino da Independência (ou Hino da Independência), de Augusto Bracet, 1922.

 

Em um outro quadro, Primeiros Sons do Hino da Independência (1922), de Augusto Bracet (acima), que também valoriza a figura do imperador, D. Pedro I é visto ao piano, cercado por pessoas da corte e em companhia de Evaristo da Veiga. Na verdade, à Evaristo da Veiga e D. Pedro I são atribuídos, respectivamente, a letra e a música do Hino da Independência.

 


Já podeis da Pátria filhos,

Ver contente a Mãe gentil!

Já raiou a Liberdade

No Horizonte do Brasil,

Já raiou a Liberdade

Já raiou a Liberdade

No Horizonte do Brasil!

 

Brava Gente Brasileira

Longe vá, temor servil;

Ou ficar a Pátria livre,

Ou morrer pelo Brasil.

Ou ficar a Pátria livre,

Ou morrer pelo Brasil.

 

Os grilhões que nos forjava

Da perfídia astuto ardil,

Houve Mão mais poderosa,

Zombou deles o Brasil.

Houve Mão mais poderosa

Houve Mão mais poderosa

Zombou deles o Brasil.

 

O Real Herdeiro Augusto

Conhecendo o engano vil,

Em despeito dos Tiranos

Quis ficar no seu Brasil.

Em despeito dos Tiranos

Em despeito dos Tiranos

Quis ficar no seu Brasil.

 

Ressoavam sombras tristes

Da cruel Guerra Civil,

Mas fugiram apressadas

Vendo o Anjo do Brasil.

Mas fugiram apressadas

Mas fugiram apressadas

Vendo o Anjo do Brasil.

 

Mal soou na serra ao longe

Nosso grito varonil;

Nos imensos ombros logo

A cabeça ergue o Brasil.

Nos imensos ombros logo

Nos imensos ombros logo

A cabeça ergue o Brasil.

 

Filhos clama, caros filhos,

E depois de afrontas mil,

Que a vingar a negra injúria

Vem chamar-vos o Brasil.

Que a vingar a negra injúria

Que a vingar a negra injúria

Vem chamar-vos o Brasil.

 

Não temais ímpias falanges,

Que apresentam face hostil:

Vossos peitos, vossos braços

São muralhas do Brasil.

Vossos peitos, vossos braços

Vossos peitos, vossos braços

São muralhas do Brasil.

 

Mostra Pedro a vossa fronte

Alma intrépida e viril:

Tende nele o Digno Chefe

Deste Império do Brasil.

Tende nele o Digno Chefe

Tende nele o Digno Chefe

Deste Império do Brasil.

 

Parabéns, oh Brasileiros,

Já com garbo varonil

Do Universo entre as Nações

Resplandece a do Brasil.

Do Universo entre as Nações

Do Universo entre as Nações

Resplandece a do Brasil.

 

Parabéns; já somos livres;

Já brilhante, e senhoril

Vai juntar-se em nossos lares

A Assembleia do Brasil.

Vai juntar-se em nossos lares

Vai juntar-se em nossos lares

A Assembleia do Brasil.


 

 


https://www.youtube.com/watch?v=6OM20Kd0N2o

 

A composição, supostamente, teria sido feita no mesmo dia do “grito da independência”, logo depois da chegada de D. Pedro de sua viagem a Santos, e apresentada em público na noite daquele mesmo dia. Não obstante, o Hino da Independência, comprovadamente chamado antes Hino Imperial e Constitucional, logo teria uma versão impressa que começaria a ter circulação (CARDOSO, 2012).

Partitura do Hino Imperial e Constitucional (Hino da Independência), 1830 (WALSH apud CARDOSO, 2012, p. 40).

 

            O Hino da Independência ainda teria assumido o nome de Hino Nacional no Brasil, até a ida de D. Pedro para Portugal (onde era Pedro IV), para tentar apaziguar a Guerra Civil Portuguesa e retomar o trono para sua filha Maria II, conflito que terminaria vencendo ao lado dos liberais, mas que lhe traria uma doença, que agravada por uma tuberculose, culminaria em sua morte em 1834. Ali, D. Pedro ainda comporia outro Hino Nacional, o Hino Constitucional ou Hino da Carta, que, em 1910, seria substituído por A Portuguesa.

 

 

 Referências Bibliográficas:

 

  CARDOSO, Lino de Almeida. Subsídios para a gênese da imprensa musical brasileira e para a história do Hino da Independência, de Dom Pedro I. Per Musi, Belo Horizonte, nº 25, 2012, p. 39-48.

MONTEIRO, José Fernando. A Modinha Brasileira: Trajetória e veleidade (sécs. XVIII-XX). Curitiba: Appris, 2019.

 VALENÇA, José Rolim. Modinha: Raízes da música do povo. São Paulo: Empresas Dow, 1985.


 

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