A História tradicional conta que a Independência do Brasil foi conseguida no dia 07 de setembro de 1822, quando o príncipe regente D. Pedro I gritou “Independência ou Morte”, às margens do rio Ipiranga, transformando a ex-colônia portuguesa em uma monarquia e coroando D. Pedro como primeiro imperador do Brasil.
O episódio foi solenemente retratado por Pedro Américo em seu quadro Independência ou Morte, de 1888, mostrando o ato heroico do imperador que libertava os brasileiros da dominação colonial. A pintura é acusada de seguir um ímpeto nacionalista, e monarquista, que procurara valorizar a figura do imperador quando o Império já se encontrava desgastado. Além disso, contestadores e testemunhas asseguram que a cena não se deu como no quadro: que D. Pedro não estaria em um cavalo e sim em uma mula (!), mais apropriada para a subida da serra de Santos, de onde vinha o príncipe regente; que sua fisionomia não seria aquela, pois sofria de dores de estômago, em decorrência de algum alimento estragado que ingeriu; e que não era hábito de D. Pedro ser acompanhado por tantas pessoas como as que foram retratadas no quadro.
Independência ou Morte, de Pedro
Américo, 1888.
A despeito destas questões, sempre foi ensinado que o Brasil tornou-se independente, tal como diz-se na letra do Hino Nacional Brasileiro, quando: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas/ De um povo heroico o brado retumbante”.
“[…] gostava de cantar modinhas e
tinha boa voz, além de ser também um profícuo pianista, tendo ele, juntamente
com sua consorte D. Leopoldina e a Infanta D. Isabel Maria, tomado aulas com
Sigismund Neukomm, seguindo o exemplo de seu pai, D. João VI, que sendo
reconhecidamente um mecenas também tomou, quando jovem, aulas de teclas com
João Cordeiro da Silva, organista da Capela Real do Palácio da Ajuda, em
Lisboa. D. João VI, também é responsável pela introdução do piano e do
estabelecimento das primeiras casas impressoras de música no Brasil, além de
ter trazido vasto acervo musical (do qual muitas obras serviram ao padre José Maurício
Nunes Garcia) e de ter repatriado a modinha em solo brasileiro, quando da vinda
da família real.” (MONTEIRO, 2019, p. 147).
Primeiros Sons do Hino da Independência (ou Hino da Independência), de Augusto
Bracet, 1922.
Em um outro quadro, Primeiros Sons do Hino da Independência (1922), de Augusto Bracet (acima), que também valoriza a figura do imperador, D. Pedro I é visto ao piano, cercado por pessoas da corte e em companhia de Evaristo da Veiga. Na verdade, à Evaristo da Veiga e D. Pedro I são atribuídos, respectivamente, a letra e a música do Hino da Independência.
Já podeis da
Pátria filhos,
Ver contente a
Mãe gentil!
Já raiou a
Liberdade
No Horizonte do
Brasil,
Já raiou a
Liberdade
Já raiou a
Liberdade
No Horizonte do
Brasil!
Brava Gente
Brasileira
Longe vá, temor
servil;
Ou ficar a Pátria
livre,
Ou morrer pelo
Brasil.
Ou ficar a Pátria
livre,
Ou morrer pelo
Brasil.
Os grilhões que
nos forjava
Da perfídia
astuto ardil,
Houve Mão mais
poderosa,
Zombou deles o
Brasil.
Houve Mão mais
poderosa
Houve Mão mais
poderosa
Zombou deles o
Brasil.
O Real Herdeiro
Augusto
Conhecendo o
engano vil,
Em despeito dos
Tiranos
Quis ficar no seu
Brasil.
Em despeito dos
Tiranos
Em despeito dos
Tiranos
Quis ficar no seu
Brasil.
Ressoavam sombras
tristes
Da cruel Guerra
Civil,
Mas fugiram
apressadas
Vendo o Anjo do
Brasil.
Mas fugiram
apressadas
Mas fugiram
apressadas
Vendo o Anjo do
Brasil.
Mal soou na serra
ao longe
Nosso grito
varonil;
Nos imensos
ombros logo
A cabeça ergue o
Brasil.
Nos imensos
ombros logo
Nos imensos
ombros logo
A cabeça ergue o
Brasil.
Filhos clama,
caros filhos,
E depois de
afrontas mil,
Que a vingar a
negra injúria
Vem chamar-vos o
Brasil.
Que a vingar a
negra injúria
Que a vingar a
negra injúria
Vem chamar-vos o
Brasil.
Não temais ímpias
falanges,
Que apresentam
face hostil:
Vossos peitos,
vossos braços
São muralhas do
Brasil.
Vossos peitos,
vossos braços
Vossos peitos,
vossos braços
São muralhas do
Brasil.
Mostra Pedro a
vossa fronte
Alma intrépida e
viril:
Tende nele o
Digno Chefe
Deste Império do
Brasil.
Tende nele o
Digno Chefe
Tende nele o
Digno Chefe
Deste Império do
Brasil.
Parabéns, oh
Brasileiros,
Já com garbo
varonil
Do Universo entre
as Nações
Resplandece a do
Brasil.
Do Universo entre
as Nações
Do Universo entre
as Nações
Resplandece a do
Brasil.
Parabéns; já
somos livres;
Já brilhante, e
senhoril
Vai juntar-se em
nossos lares
A Assembleia do
Brasil.
Vai juntar-se em
nossos lares
Vai juntar-se em
nossos lares
A Assembleia do
Brasil.
https://www.youtube.com/watch?v=6OM20Kd0N2o
A composição, supostamente, teria sido feita no mesmo dia do “grito da independência”, logo depois da chegada de D. Pedro de sua viagem a Santos, e apresentada em público na noite daquele mesmo dia. Não obstante, o Hino da Independência, comprovadamente chamado antes Hino Imperial e Constitucional, logo teria uma versão impressa que começaria a ter circulação (CARDOSO, 2012).
Partitura do Hino Imperial e Constitucional (Hino
da Independência), 1830 (WALSH apud CARDOSO, 2012, p. 40).
O Hino da Independência
ainda teria assumido o nome de Hino Nacional
no Brasil, até a ida de D. Pedro para Portugal (onde era Pedro IV), para tentar
apaziguar a Guerra Civil Portuguesa e retomar o trono para sua filha Maria II,
conflito que terminaria vencendo ao lado dos liberais, mas que lhe traria uma
doença, que agravada por uma tuberculose, culminaria em sua morte em 1834. Ali,
D. Pedro ainda comporia outro Hino Nacional, o Hino Constitucional ou Hino da Carta, que, em
1910, seria substituído por A Portuguesa.
MONTEIRO, José Fernando. A Modinha
Brasileira: Trajetória e veleidade (sécs. XVIII-XX). Curitiba: Appris, 2019.
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