A televisão é um meio de comunicação de massa que chegou ao Brasil através de uma iniciativa de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. De acordo com Sérgio Mattos, a televisão no Brasil se desenvolveu em seis fases distintas, são elas:
“1)
A fase elitista (1950 – 1964), quando
o televisor era considerado um luxo ao qual apenas a elite econômica tinha
acesso;
2)
A fase populista (1964 – 1975),
quando a televisão era considerada um exemplo de modernidade e programas de
auditório e de baixo nível tomavam grande parte da programação;
3)
A fase do desenvolvimento tecnológico
(1975 – 1985), quando as redes de TV se aperfeiçoavam e começaram a produzir,
com maior intensidade e profissionalismo, os seus próprios programas com
estímulo de órgãos oficiais, visando, inclusive, a exportação;
4)
A fase da transição e da expansão
internacional (1985 – 1990), durante a Nova República, quando se
intensificam as exportações de programas;
5)
A fase da globalização e da TV paga
(1990 – 2000), quando o país busca a modernidade a qualquer custo e a televisão
se adapta aos novos rumos da redemocratização; e
6) A fase da convergência e da qualidade digital, que começa no ano de 2000, com a tecnologia apontando para uma interatividade cada vez maior dos veículos de comunicação, principalmente a televisão, com a Internet e outras tecnologias da informação.” (MATTOS, 2002, p. 78-79).
A música sempre este presente na televisão, em junho
de 1939, na Feira de Amostras do Rio de Janeiro, houve uma primeira
demonstração pública de imagens geradas e reproduzidas por um sistema de
televisão no Brasil, realizada pela empresa alemã Telefunken, onde aparece a
cantora Marília Batista. Em julho de 1950, em sua pré-estréia, ainda em fase
experimental, a música novamente teve um papel importante. “O programa de estréia consistiu de um
espetáculo musical montado por Ribeiro Filho, incluindo como principal astro o
cantor Frei Mojica.” (COSTELLA, 1984, p. 196), de acordo com uma declaração de
Hebe Camargo ao jornal Diário de São Paulo, dez mil pessoas viram a imagem e ouviram
o canto do Frei José Mojica. A primeira emissora de TV brasileira – também a
primeira na América Latina –, a PRF-3 – TV TUPI – Canal 3 de São Paulo, foi ao
ar em 18 de setembro de 1950. Neste dia, com 200 televisores espalhados pela
cidade onde, mais uma vez, a música ganhou destaque, Lolita Rodrigues canta, as
17:00h, a “Canção da TV” ou “Hino da
Televisão Brasileira”, com música de Marcelo Tupinambá e letra de Guilherme de
Almeida:
HINO DA TELEVISÃO
BRASILEIRA
Vingou como tudo
vinga
No teu chão
Piratininga,
A cruz que
Anchieta plantou.
Pois dir-se-á
que ela hoje acena
Por uma
altíssima antena
A cruz que
Anchieta plantou.
E te dá num
amuleto
O vermelho,
Branco e preto
Das penas do teu
cocar.
E te mostra num
espelho
O preto, branco
e vermelho
Das contas do
teu colar.
Em 20 de janeiro de 1951 iniciam as atividades da TV
Tupi do Rio de Janeiro e mais uma vez a música entra em cena, após a abertura o
apresentador anuncia as atrações e entre elas o grupo “Garotos da Lua” que
tinha como integrante, o posteriormente bossanovista, João Gilberto. Já em 1952
foi inaugurada a TV Paulista, “Em 1953 veio a TV Record de São Paulo, e em
1955, a segunda emissora no Rio, a TV Rio. Em 1956 a TV Itacolomi, em Belo
Horizonte e em 1960 a TV Brasília e a TV Nacional, em Brasília. Em 1961, a TV
Excelsior e TV Cultura, em São Paulo: no Rio a TV Continental.” (SAMPAIO, 1984,
p. 203), e inúmeras outras foram inauguradas em seguida (vide quadro 1) ou
passaram por grandes transformações, chegando aos nossos dias como verdadeiros conglomerados
(vide quadro 2) multinacionais exportando a produção cultural brasileira para
vários países.
“Os Garotos da Lua”, com, o futuramente
bossanovista, João Gilberto (no topo).
Michel Foucault nos esclarece que a televisão
enquanto “espaço” corresponde ao que ele chama de heterotopia, pois se encontra
alhures do restante da sociedade, segregado de seu entorno, apesar de
discuti-lo e refleti-lo, segundo ele,
“A
heterotopia consegue sobrepor, num só espaço real, vários espaços, vários
sítios, que por si só seriam incompatíveis. Assim é o que acontece num teatro,
no rectângulo do palco, em que uma série de lugares se sucedem, um atrás do
outro, um estranho ao outro; assim é o que acontece no cinema, essa divisão
rectangular tão peculiar, no fundo da qual, num ecrã bidimensional se podem ver
projecções de espaços tridimensionais.” (FOUCAULT, 1986, p. 03).
Podemos acrescentar à isso a televisão que
representa em um único lugar diversos outros lugares, bem como suas relações
sociais. A TV como espaço de difusão musical, se tornaria cada vez mais
importante, em 1952, pela TV Tupi, estreou o programa “Clube dos Artistas” que
inicialmente foi apresentado por Homero Silva, porém, se consagraria com os
apresentadores Airton e Lolita Rodrigues atingindo o ano de 1980, apesar de não
ser um programa exclusivamente musical. Em 1955 estrearia o programa “Noite de
Gala”, pela TV Rio, contando com a participação de Flávio Cavalcante (como
repórter) que, mais tarde, em 1957, viria a apresentar o programa “Um Instante
Maestro”, pela TV Tupi, este, apesar de polêmico, mais voltado para o
seguimento musical. Em 1956 teria espaço o programa “Em tempo de música” na TV
Tupi, sob o comando do prestigiado flautista Altamiro Carrilho. Já em 1958
outro programa estrearia “Discoteca do Chacrinha” apresentado por Abelardo
Barbosa, o “Chacrinha”, iniciou na TV Tupi indo depois para a TV Rio e
finalmente para a TV Globo, ajudou em muito a música brasileira, principalmente
devido a sua popularidade, lançando muitos ídolos.
Homero
Silva, apresentador do programa “Clube dos Artistas” pela TV Tupi (TINHORÃO,
1981, p. 212).
Nos anos de 1960 a televisão no Brasil efetivamente
se consolidaria, o crescimento da população urbana e o aumento do número de
emissoras contribuíram para que o “circo eletrônico” se popularizasse,
tornando-se um mass media. “Em 1960
já existiam vinte emissoras de TV espalhadas pelas principais cidades
brasileiras e cerca de 1,8 milhões de televisores.” (MATTOS, op. cit., p. 176). No início da década
de 1960 surge um programa de grande relevância para a televisão brasileira, é o
“Brasil 60”, que continuou em 61, 62 e 63, apresentado na TV Excelsior por Bibi
Ferreira, por lá passaram Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Elis Regina,
Dalva de Oliveira, Luiz Gonzaga, Aracy de Almeida, Aurora Miranda, e a rainha
da Marinha Emilinha Borba. Os anos 1960 foram extremamente agitados e na
segunda metade da década surgem diversos programas musicais como: “Bossaudade”
apresentado por Elizete Cardoso, “Corte-Rayol Show” apresentado por Renato
Corte Real e Agnaldo Rayol, “Spot-Light-BO 65” com Wilson Simonal e Claudete
Soares, “O Fino da Bossa” (depois “O Fino 67”) apresentado por Elis Regina e
Jair Rodrigues, “Jovem Guarda” apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e
Wanderléa, todos estes apresentados no ano de 1965, pela TV Record. Depois foi
a vez de “Pra Ver a Banda Passar” com Chico Buarque e Nara Leão e “Disparada”
com Geraldo Vandré (1967), também estréiam “Ensaio Geral” e “Programa Raul Gil”
(1967) (este último inicialmente pela TV Excelsior e depois por diversas outras
emissoras). Segundo Marcos Napolitano, “Os musicais de televisão eram antigos,
mas até o início dos anos 1960 disputavam o público com o rádio. Com os
musicais semanais (Fino da Bossa, Bossaudade, Ensaio Geral, entre outros) consolidou-se uma nova linguagem
musical e televisiva.” (NAPOLITANO, 2001, p. 55). A década de 60 ainda
reservaria grandes surpresas para a música popular brasileira, esse período
seria marcado pelo inicio da “Era dos Festivais”, os festivais televisivos que
foram apresentados inicialmente pela TV Excelsior e depois pela TV Record, TV Rio
e TV Globo, trouxeram a renovação da musica nacional com o surgimento de um
panteão de novos compositores, letristas e intérpretes e seu cenário era um,
“misto de comício, baile, show universitário e concerto artístico” (NAPOLITANO,
2007, pp. 88-89). Os festivais eram de fato um foco de protestos, contudo, René
Rémond nos mostra que “[...] os meios de comunicação não são por natureza
realidades propriamente políticas: podem tornar-se políticos em virtude de sua
destinação, como se diz dos instrumentos que são transformados em armas.”
(RÉMOND, 1996, p. 441). Já no final da década, em 1968, estreava o programa
“Divino Maravilhoso” apresentado por Caetano Veloso e Gilberto Gil que marcaria
o auge do movimento tropicalista. Em 1969 ainda surgiria o programa “MPB
Especial, pela TV Cultura, apresentado por Fernando Faro.
Bibi
Ferreira, apresentadora do programa “Brasil 60” da TV Excelsior. (MOYA, 2010,
p. 96).
Jair
Rodrigues e Elis Regina apresentadores do programa “O Fino da Bossa” da TV Record.
Wanderléia, Roberto Carlos e Erasmo
Carlos, no
programa “Jovem Guarda” pela TV Record. (NAPOLITANO,
2001, p. 57).
Na década de 1970 ocorreria o advento da televisão
colorida.
“Lançada
a TV a cores no Brasil em março de 1972, na Festa da Uva em Caxias, foi a mesma
introduzida sob uma evolução gradativa e sempre crescente. De começo as
programações coloridas eram poucas e curtas por diversos motivos: as produções
era em número reduzido e pouco numerosos os telespectadores detentores de
receptores a cor; as emissoras para o branco e preto, por motivos econômicos,
somente aps poucos foram substituindo os seus transmissores, câmeras, telecines
por equipamentos adequados aos sistema colorido.” (SAMPAIO, 1984, p. 247).
A música popular
brasileira encontraria inúmeras barreiras nos anos 1970 devido à forte
repressão política por parte do regime militar, assim, a história da televisão
no Brasil obtém
“[...] maior liberdade nos primeiros anos e
restrições no momento em que atinge uma idade tecnológica e organizacional apta
a intervir, pelo seu conteúdo, nas transformações sociais. [...] Em outras
palavras, a censura age através da supressão de imagens e palavras na televisão
e sua substituição por problemas irrelevantes [...]. Aliás, esta censura esta
censura serviu de reforço a uma predominância dos conteúdos de evasão nos Meios
de Comunicação, tanto impressos quanto eletrônicos, nos últimos tempos.” (CAPARELLI,
1982, pp. 163-164).
Contudo, não faltaram programas que divulgassem as produções da música nacional. Em 1970 surge “Som Livre Exportação” pela Rede Globo apresentado [primeiro por integrantes do MAU e depois] por Elis Regina e Ivan Lins. Ainda pela Rede Globo, em 1972, surgiria o “Globo de Ouro” que teve vários apresentadores e ficou no ar até 1990. Também pela Rede Globo se iniciaria, em 1974, o “Roberto Carlos Especial” programa de fim de ano que ainda hoje é exibido pela emissora e conta com a participação de inúmeros artistas da música brasileira. A Rede Globo ainda apresentaria de 1976 até 1984 o programa “Brasil Especial” que mostrava perfis de grandes nomes da MPB. Em 1975, Benito de Paula chegou a comandar o programa "Brasil Som 75", na extinta TV Tupi e, em 1979, a mesma Tupi apresentou o programa “Abertura” que tinha a frente o cineasta Glauber Rocha.
Ivan
Lins, ao piano, que junto a Elis Regina apresentava o programa “Som Livre
Exportação”.
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